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domingo, 16 de setembro de 2012

Carta Maior publica texto sobre o genocídio indígena durante a Ditadura Militar no Brasil

Nós do Blog Resistência Indígena Continental atuamos em conjunto com a Rede de Direitos Humanos encabeçada pelo Armazém Memória, Grupo Tortura Nunca Mais/SP, Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e Associação Juízes para Democracia na apuração dos crimes lesa-humanidade perpetrados entre 1946 a 1988 pelo Estado Brasileiro contra nós povos originários.

A seguir trazemos a publicação da Carta Maior na qual o membro do: Armazém Memória, Grupo Tortura Nunca Mais/SP e Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, Marcelo Zelic começa a desvelar os crimes da Ditadura Militar contra nós nativos.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20862


Documentário mostra importância de investigar violação dos direitos humanos dos indígenas

O documentário AmazôniAdentro, produzido pela TV Brasil, ilustra a importância da decisão da 6ª Câmara do Ministério Público Federal de apurar as violações dos direitos humanos dos indígenas no Brasil durante a ditadura militar. A 6ª Câmara tomou uma decisão importante para o país, que trará luz sobre um assunto tabú e que gerou muito sofrimento à população atingida. O artigo é de Marcelo Zelic.



(*) O primeiro episódio de AmazôniAdentro Waimiri-Atroari mostra uma panorâmica sobre a Amazônia, com escalada de alguns episódios - a destruição da floresta, o avanço da pecuária, o ciclo da borracha, Chico Mendes, o projeto Jari, e a presença nazista, nos idos dos anos 30, no vale do rio Jari. Os outros três episódios podem ser vistos aqui.

O documentário AmazôniAdentro capítulo 1 produzido pela TV Brasil, ilustra a importância da decisão da 6ª Câmara do Ministério Público Federal de apurar as violações dos direitos humanos dos indígenas no Brasil durante a ditadura militar. A 6ª Câmara tomou uma decisão importante para o país, que trará luz sobre um assunto tabú e que gerou muito sofrimento à população atingida. O caso Waimiri-Atroari, a construção da BR-174 e outras obras na região que os atingiram, precisa ser esclarecido. Tal decisão vai ao encontro à tomada pelos membros da Comissão Nacional da Verdade que já incorporaram a seu trabalho um eixo que tratará da questão indígena.

Fatos graves como o bombardeamento de aldeias, precisam ser apurados. É marcante o depoimento de Mario Parwé Atroari, diz ele, “foi assim tipo bomba, lá na aldeia. O índio que estava na aldeia não escapou ninguém. Ele veio no avião e de repente esquentou tudinho. Ali morreu muita gente Waimiri-Atroari”.

Para Viana Wamé Atroari “foi muita maldade na construção BR 174”. Ele conta no documentário dirigido por Edilson Martins: “Aí veio muita gente, pessoal armado, assim no caso do exército, esse aí eu vi, eu sei, que me lembro bem, tinha um avião assim ... ... tipo ... folha ... descendo de folha, ... ... assim vermelho por baixo, só isso. Passo isso aí, morria rapidinho as pessoas.” Em sua fala não fica claro o tipo de arma utilizada, mas que morriam depois que o avião passava e não era bomba está colocado.

Imagens das atrocidades ficaram registradas em fotos e é preciso que os cidadãos brasileiros vejam estas imagens. É preciso sabermos a verdade dos fatos e apurá-los. O Brasil terá sua democracia fortalecida e quiça passemos enquanto nação a respeitar os direitos e a existência dos índios brasileiros, mudando condutas no presente, para que possamos reparar essas “maldades” de nosso desenvolvimento. Nos tratados internacionais essas “maldades” são chamadas de genocídio. No final da construção da estrada sobraram menos de 300 pessoas somadas todas as aldeias.

A presença do exército na região de forma armada para o combate é inegável, no filme há o relato de emprego de navio com canhão de proa atirando em aldeia. Para aqueles que ainda alimentam dúvidas, é preciso observar que os mesmos sacos plasticos listrados usados acima para translado de pessoas mortas, aparecem em outra área conflagrada na mesma época onde a atuação das forças armadas foi objeto de condenação de nosso país na Corte Interamericana de Direitos Humanos por pratica de terrorrismo de estado. Sentença essa, diga-se de público, que o estado brasileiro ainda não cumpriu. Sua utilização na área dos Waimiri-Atroari sinaliza a presença das forças armadas atuando no conflito. Os sacos listrados aparecem também nas imagens do translado para realizar o desaparecimento de guerrilheiros do Araguaia.

Essas imagens fazem parte da história da sociedade brasileira, pertencem ao passado, mas os crimes que registram não prescrevem por serem de lesa-humanidade. Faz-se urgente quebrarmos os tabús sobre essas violações de direitos humanos e enfrentarmos estas verdades e reparmos com justiça estas populações atingidas, buscando com isso uma reflexão fundamental sobre o que precisamos mudar em nosso conceito de desenvolvimento em relação ao trato com as nações indígenas brasileiras, para removermos condutas que infelizmente perduram até hoje e criarmos mecanismos de não-repetição para que as feridas abertas possam um dia cicatrizar.

(*) Vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo. Coordenador do Projeto Armazém Memória.



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