Foto: Ribamar Rocha
Davi Kopenawa diz que uma das ameaças que sofreu ocorreu no dia 11 de junho deste ano
RIBAMAR ROCHA
Editoria de Cidade
ribamar@folhabv.com.br
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O líder Yanomami, Davi Kopenawa, denunciou ao delegado-adjunto da Polícia Federal (PF) em Roraima, Fernando Peres, que está sofrendo ameaças de morte. Um relatório cronológico foi protocolado na PF e entregue ao delgado durante audiência realizada na tarde de ontem na sede da PF. O relatório é assinado pelo diretor da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dario Vitorio Kopenawa Yanomami, e consta que as ameaças estariam partindo de pessoas que se sentiram prejudicadas com as operações de retiradas de garimpeiros na Terra Yanomami.
Segundo aponta o relatório, além de Davi, os diretores e funcionários da HAY estariam em clima de insegurança depois das ameaças de morte feitas por pessoas estranhas que estariam rondando a sede da organização.
A cronologia das ameaças relata que em maio deste ano o diretor da Hutukara, Armindo Góes, disse que estava em São Gabriel da Cachoeira-AM quando garimpeiros avisaram que "pessoas que tiveram prejuízo com as operações de combate ao garimpo na Terra Yanomami estavam buscando por Davi Kopenawa e que ele não chegaria vivo até o final do ano".
Como precaução, a Hutukara tomou medidas para aumentar a segurança na sua sede, em Boa Vista, e restringiu as atividades e a movimentação do seu presidente. No entanto, em junho deste ano, dois homens armados entraram na sede do Instituto Sócio-Ambiental (ISA), em Boa Vista, procurando Davi e por funcionários.
"Após entrarem no escritório sacaram pistolas e anunciaram o assalto. Levaram todos os computadores, celulares e GPSs. Um dos criminosos foi preso e disse que o assalto havia sido encomendado por outro homem, em um garimpo em Tumeremo, na Venezuela", diz o relatório. "A partir daí, motoqueiros são vistos rondando a sede da Hutukara e perguntando por Davi", relata.
Em entrevista à Folha, ainda na Superintendência da Polícia Federal, Davi Kopenawa contou como foi a ameaça de morte que, segundo ele, sofreu em 11 de junho deste ano.
"Nunca procurei a Policia Federal para essa tipo de problema, mas sofri ameaça de dois pistoleiros que foram atrás de mim na Associação Hutukara, mas não estava lá e eles perguntaram onde estava", afirmou. "Eles querem acabar comigo", frisou, embora não tenha falado nomes, apontou que seriam pessoas ligadas a garimpeiros e fazendeiros da região.
Segundo Davi, não haverá intimidação e que vai continuar a lutar por seu povo e pela terra Yanomami.
"Vamos continuar lutando e trabalhando pelo meu povo. Porque esse é o meu trabalho. Defender o povo e a terra yanomami. Não faço como os brancos que vão atrás de uma pessoa para acabar com ela. Não atrapalho o trabalho dele, mas ele está atrapalhando o trabalho nosso e nossa luta", disse.
Segundo ele, o motivo ao qual estaria sendo ameaçado se deve ao trabalho que vem desenvolvendo nos últimos anos, uma parceria da Hutukara com a Funai e a Polícia Federal no combate ao garimpo, fornecendo mapas dos locais, pontos geográficos de localização, prefixos de aeronaves, apelidos de pilotos e nomes de pessoas que financiam a atividade ilegal na Terra Yanomami. Esta ação resultou na operação Xawara, da Polícia Federal, em julho de 2012, que prendeu pilotos, donos de balsas e de joalherias.
Além da denúncia de ameaça de morte, Davi afirmou que pediu que a Polícia Federal continue a investigação da cadeia do ouro da Terra Yanomami, desde quem financia, quem compra, e o destino final e que produza provas necessárias à responsabilização penal e civil das pessoas que cometem estes crimes.
"Infelizmente, os financiadores da exploração mineral ilegal raramente são identificados e os garimpeiros presos são rapidamente soltos e retornam à atividade ilegal dentro da Terra Yanomami", disse.
Caso será levado à presidência da Funai
O coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Yekuana, João Batista Catalano, acompanhou o encontro do líder Yanomami, Davi Kopenawa com o delegado da Polícia Federal e informou que a Hutukara Associação Yanomami encaminhou uma série de denúncias de ameaças contra o líder indígena e servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio) e informou que, por se tratar de ameaça a um servidor da Funai, vai encaminhar o caso para conhecimento da presidência da fundação, em Brasília, para que possa garantir sua segurança.
"O Davi é servidor da Funai há mais de 32 anos e como servidor público ficamos preocupados com essa ameaça, pois não é o primeiro servidor da Funai que é ameaçado em Roraima", disse.
Ele creditou as ameaças sofridas por Davi Kopenawa às ações de repressão ao garimpo e a proteção territorial bastante intensa que estamos desenvolvendo e que o Davi tem papel fundamental nas articulações nos trabalhos realizados pela Frente de Proteção.
Foto: Ribamar Rocha
João Catalano: “O Davi é servidor da Funai há mais de 32 anos e como servidor público ficamos preocupados com essa ameaça”
"Ele [Davi] ficou bastante exposto com as ações que desenvolvemos e a Funai vai acompanhar essa denúncia e vamos encaminhar para a presidência da Funai, em Brasília, para que possa garantir a segurança do nosso servidor", afirmou.
Em relação ao que ficou definido na reunião com a Polícia Federal, ele disse que o delegado ficou de analisar as denúncias entregues e protocoladas na PF.
"Agora depende da Polícia Federal tomar suas providências de inquérito. De imediato prometeram analisar as denúncias e se fica caracterizado que é uma questão da competência deles, nós confiamos na Polícia Federal e temos certeza que irá desempenhar seu papel e dar uma resposta satisfatória para a Hutukara e para a comunidade indígena", frisou. (RR)
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